Pássaros - Poema de Machado de Assis
Olha como, cortando os leves ares,
Passam do vale ao monte as andorinhas;
Vão pousar na verdura dos palmares,
Que, à tarde, cobre transparente véu;
Voam também como essas avezinhas
Meus sombrios, meus tristes pensamentos;
Zombam da fúria dos contrários ventos,
Fogem da terra, acercam-se do céu.
Passam do vale ao monte as andorinhas;
Vão pousar na verdura dos palmares,
Que, à tarde, cobre transparente véu;
Voam também como essas avezinhas
Meus sombrios, meus tristes pensamentos;
Zombam da fúria dos contrários ventos,
Fogem da terra, acercam-se do céu.
Porque o céu é também aquela estância
Onde respira a doce criatura,
Filha de nosso amor, sonho da infância,
Pensamento dos dias juvenis.
Lá, como esquiva flor, formosa e pura,
Vives tu escondida entre a folhagem,
Ó rainha do ermo, ó fresca imagem
Dos meus sonhos de amor calmo e feliz!
Vão para aquela estância enamorados,
Os pensamentos de minh′alma ansiosa;
Vão contar-lhe os meus dias mal gozados
E estas noites de lágrimas e dor.
Na tua fronte pousarão, mimosa,
Como as aves no cimo da palmeira,
Dizendo aos ecos a canção primeira
De um livro escrito pela mão do amor.
Dirão também como conservo ainda
No fundo de minh′alma essa lembrança
Da tua imagem vaporosa e linda,
Único alento que me prende aqui.
E dirão mais que estrelas de esperança
Enchem a escuridão das noites minhas.
Como sobem ao monte as andorinhas,
Meus pensamentos voam para ti.
Biografia de
Machado de Assis
Machado de Assis (1839-1908) foi um escritor brasileiro.
"Helena", "A Mão e a Luva", "Iaiá Garcia" e
"Ressurreição", são romances escritos na fase romântica do escritor.
Um dos nomes mais importantes da nossa literatura. Primeiro presidente da
Academia Brasileira de Letras. Foi um autor completo. Escreveu romances, contos,
poesias, peças de teatro, inúmeras críticas, crônicas e correspondências.
Nascimento e
primeiros anos
Machado de Assis nasceu em uma chácara no morro do
Livramento no Rio de Janeiro, no dia 21 de junho de 1839. Filho de Francisco
José de Assis, um mulato, pintor de paredes e de Maria Leopoldina Machado de
Assis, lavadeira, de origem portuguesa, da Ilha dos Açores. Ainda pequeno ficou
órfão de mãe e o pai casa-se pela segunda vez. Para ajudar nas despesas da casa
trabalhou vendendo doces. Frequentou por pouco tempo uma escola pública.
Carreira e a
Academia Brasileira das Artes
Logo cedo mostrou seus pendores intelectuais, aprendeu
francês com uma amiga. Em 1851 morreu seu pai. Em 1855 frequentava a tipografia
e livraria de Francisco de Paula Brito, onde se publicava a revista Marmota
Fluminense, em cujo número de 21 de janeiro sai seu poema "Ela". Em
1856 entrou na Tipografia Nacional, como aprendiz de tipógrafo, onde conheceu o
escritor Manuel Antônio de Almeida, de quem se tornou amigo. Aí permaneceu até
1858.
Machado de Assis retornou, em 1858, para a livraria de
Francisco de Paula Brito, onde se tornou revisor. Sem abandonar a atividade
literária, passou a frequentar o mundo boêmio dos intelectuais do Rio de
Janeiro. Logo veio a colaborar para vários jornais e revistas, entre eles
Revista Ilustrada, Gazeta de Notícias, e o Jornal do Comércio. Em 1864 publicou
seu primeiro livro de poesias, "Crisálidas".
Em 1867 iniciou sua carreira de funcionário público. Por
indicação do jornalista e político Quintino Bocaiuva, tornou-se redator do
Diário Oficial, onde logo foi promovido a assistente de diretor. Em 1869
casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novais, que o estimulou na carreira
literária. Em 1872 publicou seu primeiro romance "Ressurreição".
Machado de Assis teve uma carreira meteórica, como
funcionário público. Em 1873 foi nomeado primeiro oficial da Secretaria
(Ministério) da Agricultura, e três meses depois assumia a chefia de uma seção.
Recebeu do Imperador o grau de Cavaleiro da Ordem da Rosa, por serviços
prestados à letras nacionais.
Machado de Assis foi um dos fundadores da Academia
Brasileira de Letras, em 1896. É aclamado presidente e por unanimidade, logo na
primeira reunião, é eleito presidente. Ocupou a cadeira de número 23. Em sua
homenagem, a Academia é chamada de "Casa de Machado de Assis".
Últimos anos e morte
Em outubro de 1904 morreu sua esposa, que além de revisora
de suas obras era também sua enfermeira, pois Machado de Assis tinha a saúde
abalada pela epilepsia. Após sua morte o romancista raramente saía de casa. Em
sua homenagem dedicou o poema "A Carolina".
Joaquim Maria Machado de Assis morreu no Rio de Janeiro, no
dia 29 de setembro de 1908. Foi enterrado no cemitério de São João Batista, na
mesma cidade onde nasceu e viveu toda sua vida. Representando a Academia
Brasileira de Letras, o jurista Rui Barbosa fez um discurso em homenagem ao
escritor.
Obras de
Machado de Assis
Machado de Assis escreveu inúmeros poemas, contos, peças
teatrais e romances. Conheça as suas principais obras:
- Desencanto,
teatro, 1861
- Queda
que as mulheres têm pelos Tolos, teatro, 1861
- Quase
Ministro, teatro, 1864
- Crisálidas,
poesia, 1864
- Os
Deuses de Casaca, teatro, 1866
- Contos
Fluminenses, conto, 1870
- Falenas,
poesia, 1870
- Ressurreição,
romance, 1872
- História
da Meia Noite, conto, 1873
- A Mão e
a Luva, romance, 1874
- Americanas,
poesia, 1875
- Helena,
romance, 1876
- Iaiá
Garcia, romance, 1878
- Memórias
Póstumas de Brás Cubas, romance, 1881
- Tu, Só
Tu, Puro Amor, teatro, 1881
- Papéis
Avulsos, conto, 1882
- O Alienista,
conto, 1882
- Histórias
Sem Data, conto, 1884
- Páginas
Recolhidas, conto, 1889
- Quincas
Borba, romance, 1891
- Várias
Histórias, conto, 1896
- Dom
Casmurro, romance, 1899
- Poesias
Completas, 1901
- Esaú e
Jacó, romance, 1904
- Relíquias
da Casa Velha, conto, 1906
- Memorial
de Aires, romance, 1908
Memórias
Póstumas de Brás Cubas (1881), Machado de Assis
Uma desconstrução do Brasil, por meio da ironia, que
escancara a hipocrisia da nossa elite dirigente no século 19. Machado de Assis
dá voz a um narrador defunto que, longe da vida social, pode zombar do caráter
das pessoas com quem conviveu. O romance também é importante por se valer de
novas técnicas narrativas, fazendo-se a obra mais inovadora daquele século.
Frases de
Machado de Assis
- Cada qual sabe amar a seu modo; o modo,
pouco importa; o essencial é que saiba amar.
- Creia em si, mas não duvide sempre dos
outros.
- A vida sem luta é um mar morto no centro
do organismo universal.
- Botas... as botas apertadas são uma das
maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer
de as descalçar.
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