Biografia de
José Cândido de Carvalho
Quinto ocupante da Cadeira 31, eleito em 23 de maio de 1974,
na sucessão de Cassiano Ricardo e recebido pelo Acadêmico Herberto Sales em 1º
de outubro de 1974.
José Cândido de Carvalho (1914-1989) foi escritor
brasileiro. Seu romance "O Coronel e o Lobisomem" causou grande
impacto quando lançado em 1964. Eleito membro da Academia Brasileira de Letras,
ocupou a cadeira nº 31. Foi também jornalista.
José Cândido de Carvalho (1914-1989) nasceu em Campos dos
Goitacazes, estado do Rio de Janeiro, no dia 5 de agosto de 1914. Filho de
Bonifácio de Carvalho e de Maria Cândido de Carvalho, lavradores emigrados do
norte de Portugal, que aqui no Brasil se dedicaram ao pequeno comércio.
Transferiu-se muito jovem com a família para a cidade do Rio
de Janeiro, onde trabalhou como estafeta, mas logo voltou a Campos, onde
trabalho no comércio de aguardente e açúcar. Iniciou sua carreira de jornalista
no final da década de 1920. Foi revisor do jornal O Liberal, foi redator do
jornal O Dia, Gazeta do Povo e Monitor Campista, todos de Campos.
Ingressou na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro,
concluindo o curso em 1937. Começou sua vida literária com o romance "Olha
para o Céu, Frederico". Em 1942 foi convidado pelo interventor do Rio de
janeiro, Amaral Peixoto, para dirigir o jornal O Estado, e muda-se para
Niterói. Em 1957 passa a trabalhar para a revista O Cruzeiro.
Em 1964 lança o romance "O Coronel e o Lobisomem",
obra que causou grande impacto quando apareceu. Conta a história de Ponciano de
Azevedo Furtado, proprietário de fazendas de gado do interior fluminense, que,
atraído pela vida da cidade e pelo comércio, emigra para Campos de Goitacazes,
não conseguindo se integrar ao meio urbano, perde toda sua fortuna e
enlouquece. Na obra Ponciano narra sua própria história, inclusive a loucura
final.
Em 1970, assumiu a direção da Rádio Roquete Pinto. Quatro
anos depois dirigia o Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério de
Educação e Cultura (MEC). Em 1974 foi eleito para a Academia Brasileira de
Letra, para a cadeira nº 31. Entre os anos de 1976 e 1981, foi presidente da
Fundação Nacional de Arte (FUNARTE), órgão do Ministério da Educação.
Seu romance "O Coronel e o Lobisomem", foi
traduzido para vários países e reeditado diversas vezes. Recebeu o Prêmio
Jabuti, Prêmio Coelho Neto e o Prêmio Luísa Cláudio de Souza.
José Cândido de Carvalho faleceu em Niterói, no dia 1 de
agosto de 1989.
Obras de
José Cândido de Carvalho
Olha Para o Céu, Frederico, romance, 1939
O Coronel e o Lobisomem, romance, 1964
Porque Lulu Bergantim não Atravessou o Rubicon, contos, 1970
Um Ninho de Mafagafos Cheio de Mafagafinhos, contos, 1972
Ninguém Mata o Arco-Íris, crônicas, 1972
Manequinho e o Anjo Procissão, contos, 1974
Se eu Morrer, Telefone Para o Céu, contos, 1979
Notas de Viagem ao Rio Negro, 1983
Os Mágicos Municipais, 1984
O Coronel e o Lobisomem, romance, 1964
Porque Lulu Bergantim não Atravessou o Rubicon, contos, 1970
Um Ninho de Mafagafos Cheio de Mafagafinhos, contos, 1972
Ninguém Mata o Arco-Íris, crônicas, 1972
Manequinho e o Anjo Procissão, contos, 1974
Se eu Morrer, Telefone Para o Céu, contos, 1979
Notas de Viagem ao Rio Negro, 1983
Os Mágicos Municipais, 1984
O Coronel e
o Lobisomem (1964), José Cândido de Carvalho
Ambientado
no litoral carioca, este romance coloca em cena um narrador mentiroso, que
gosta de contar vantagem, mas que revela, em cada episódio, a sua ingenuidade
de roceiro. O coronel que acreditava em lobisomem é completamente enganado por
figuras urbanas, cifrando o fim deste mundo mítico, que não tem mais
continuidade no presente. Aqui, a linguagem sertaneja ganha um colorido
deslumbrante para cifrar o descompasso deste mundo.
CONTOS CURTOS
Adeus tardes fagueiras à sombra das laranjeiras
de Casemiro de Abreu
de Casemiro de Abreu
Alcimaco Azambuja, dono de muito boi e muito voto em Pirapora, tendo de resolver umas coisas e loisas com o governo, rebocou Zizinho Pinto para terras e mares do Rio de Janeiro. E, na porta do Palácio do Catete, que naqueles dias comandava a vida do Brasil, falou para o compadre Zizinho:
— Vou ver uns papéis que estão entalados nas gavetas do governo. Venha comigo.
Zizinho recusou:
— Compadre, careço de competência para pisar chão tão mimoso. Vou quedar do lado de fora, assuntando compadre.
O compadre sumiu pela larga porta de entrada enquanto Zizinho, instalado num bom cigarro de palha, ficava vendo aquele entrar e sair de gente em formato de formiga de correição. Alcimaco, depois de desencravar seus papéis, voltou e quis saber a opinião de Zizinho Pinto:
— Compadre, gostou do Catete? Coisa assim não tem em Pirapora.
E Zizinho de Pirapora:
— Eta, compadre, lugarzinho bom de especial para um varejo, para um comercinho de cachaça e rapadura!
E mais não disse nem lhe foi perguntado.
Em boca fechada bem-te-vi não faz ninho
Campos de Melo passou todos os anos de sua vereança sem dar uma palavra. Era o boca-de-siri da câmara municipal de Cuité. Até que, uma tarde, ergueu o busto, como quem ia falar. O presidente da Mesa, mais do que depressa, disse:
— Tem a palavra o nobre vereador.
Então, em meio do grande silêncio, o grande mudo falou.
— Peço licença para fechar a janela, pois estou constipado.
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