A MULHER A VIOLÊNCIA DOMÉ$STICA E A LEI MARIA DA PENHA
nº 11.340/2006
A Lei nº 11.340/06, apesar de não ser perfeita, assim como
outras leis existentes, apresenta uma estrutura adequada e específica para
atender a complexidade e a demanda do chamado fenômeno da violência doméstica
ao prever mecanismos de prevenção, assistência às vítimas, políticas públicas e
punição mais rigorosa para os agressores. Pode-se dizer que é uma lei que tem
mais o cunho educacional e de promoção de políticas públicas de assistência às
vítimas do que a intenção de punir mais severamente os agressores dos delitos
domésticos, pois prevê em vários dispositivos medidas de proteção à mulher em
situação de violência doméstica e familiar, possibilitando uma assistência mais
eficiente e salvaguarda dos direitos humanos das vítimas.
A violência doméstica é um tema bastante
atualizado e instigante que atinge milhares de mulheres e crianças,
adolescentes e idosos em todo o mundo, decorrente da desigualdade nas relações
de poder entre homens e mulheres, assim como, a discriminação de gênero ainda
presente tanto na sociedade como na família; Porém, sabe-se que esta questão
não é recente, estando presente em todas as fases da história, mas apenas
recentemente no século XIX, com a constitucionalização dos direitos humanos a
violência passou a ser estudada com maior profundidade e apontada por diversos
setores representativos da sociedade, tornando-se assim, um problema central
para a humanidade, bem como, um grande desafio discutido e estudado por várias
áreas do conhecimento enfrentado pela sociedade contemporânea.
No Brasil, este
tema ganhou maior relevância com a entrada em vigor da Lei nº 11.340, de 07 de
agosto de 2006, também conhecida como “Lei Maria da Penha”, uma merecida
homenagem a mulher que se tornou símbolo de resistência a sucessivas agressões
de seu ex- esposo.
Diante de toda repercussão alcançada, principalmente pela
mídia, surgiram muitos comentários equívocos, criando-se, algumas vezes, falsas
expectativas, como se, a partir da criação de uma lei exclusiva para tratar do
tema, fosse inverter, de uma hora para a outra, uma rota histórica da
violência. Basicamente por ser a violência resultante de uma arraigada cultura
machista e discriminatória, que subjuga as mulheres, este problema não se
resolve de imediato, num simples passe de mágica pelo poder da lei.
Com base no importante peso do instrumento legal, ainda
assim, dentro do ponto de vista técnico, é preciso averiguar e analisar a lei à
luz dos princípios constitucionais, penais e processuais penais, para se apurar
até que ponto o Estado tem legitimidade para intervir coercitivamente na
liberdade dos cidadãos.
Fato é que a violência doméstica e familiar é uma questão
histórica e cultural anunciada, que ainda hoje infelizmente faz parte da
realidade de muitas mulheres nos lares brasileiros. Com a entrada em vigor da
Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir e prevenir a violência
doméstica e familiar contra as mulheres almeja-se que essa realidade mude e a
mulher passe a ter instrumentos legais inibitórios, para que não mais seja
vítima de discriminação, violência e ofensas dos mais variados tipos.
Vale ressaltar que para chegar ao ponto principal (violência
doméstica) é necessário abordar a chamada “violência de gênero”, examinando sua
origem, características, formas de manifestação e os possíveis fatores
causadores dessa violência. Segundo Edison Miguel:
A violência baseada no gênero é aquela decorrente das
relações entre mulheres e homens, e geralmente é praticada pelo homem contra a
mulher, mas pode ser também da mulher contra mulher ou do homem contra homem.
Sua característica fundamental está nas relações de gênero onde o masculino e o
feminino, são culturalmente construídos e determinam genericamente a violência
.
A violência doméstica não é marcada apenas pela violência
física, mas também pela violência psicológica, sexual, patrimonial, moral
dentre outras, que em nosso país atinge grande número de mulheres, as quais
vivem estes tipos de agressões no âmbito familiar, ou seja, a casa, espaço da
família, onde deveria ser “o porto seguro” considerado como lugar de proteção,
passa a ser um local de risco para mulheres e crianças.
O alto índice de conflitos domésticos já detonou o mito de
“lar doce lar”. As expressões mais terríveis da violência contra mulher estão
localizadas em suas próprias casas onde já foi um espaço seguro com proteção e
abrigo.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
A cada ano que passa, a violência reduz a vida de milhares
de pessoas em todo o mundo e com isso, prejudica a vida de muitas outras. Ela
não tem noção de fronteiras geográficas, raça, idade ou renda, atingindo assim,
crianças, jovens, mulheres e idosos. A cada ano é responsável pela morte de
milhares de pessoas em todo o mundo. Para cada pessoa que morre devido à
violência, muitas outras são feridas ou sofrem devido a vários problemas
físicos, sexuais, reprodutivos e mentais.
Neste primeiro item tem-se como ponto de partida a
controvérsia, a complexidade da locução violência. Essa polêmica tem dado causa
a muitas teorias sociológicas, antropológicas, psicológicas e jurídicas, por
isso, a imensa dificuldade de um tratamento científico do tema.
O vocábulo violência é composto pelo prefixo vis, que
significa força em latim. Lembra idéias de vigor, potência e impulso. A
etimologia da palavra violência, porém, mais do que uma simples força, a
violência pode ser compreendida como o próprio abuso da força. Violência vem do
latim violentia, que significa caráter violento ou bravio. O verbo violare,
significa tratar com violência, profanar, transgredir. Segundo Stela Valéria:
Estes termos devem ser referidos a vis, que mais
profundamente, significa dizer a força em ação, o recurso de um corpo para
exercer a sua força e, portanto, a potência, valor, a força vital .
É um ato de brutalidade, abuso, constrangimento,
desrespeito, discriminação, impedimento, imposição, invasão, ofensa, proibição,
sevícia, agressão física, psíquica, moral ou patrimonial contra alguém e
caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela ofensa e
intimidação pelo medo e terror. Segundo o dicionário Aurélio violência seria
ato violento, qualidade de violento ou até mesmo ato de violentar. Do ponto de
vista pragmático pode-se afirmar que a violência consiste em ações de
indivíduos, grupos, classes, nações que ocasionam a morte de outros seres
humanos ou que afetam sua integridade moral, física, mental ou espiritual. Em
assim sendo, é mais interessante falar de violências, pois se trata de uma
realidade plural, diferenciada, cujas especificidades necessitam ser
conhecidas.
Vale ressaltar que a violência ocorre em vários contextos e
áreas, como por exemplo, tanto no âmbito público quanto no âmbito privado.
Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde -, a violência pode ser
classificada em três modalidades:
-Violência inter-pessoal – este tipo de violência pode ser
física ou psicológica, ocorrer tanto no espaço público como no privado. São
vítimas crianças, jovens, adultos e idosos. Neste tipo de violência destaca-se
a violência entre os jovens e a violência doméstica; violência contra si mesmo
– é aquela em que a própria pessoa se violenta, causando a si mesmo lesões;
violência coletiva – em suas diversas formas, recebe uma grande atenção
pública, pois, há conflitos violentos entre nações e grupos, terrorismo de
Estado ou de grupos, estupro como arma de guerra, guerras de gangues, em que
ocorre em toda a parte do mundo; violência urbana – é aquela cometida nas
cidades, seja em razão da prática de crimes eventuais, seja pelo crime
organizado. É um problema que aflige vários países mundo afora.
Alguns cientistas sociais acreditam que a violência é
própria da essência humana (do estado de natureza). Enquanto fenômeno
estritamente humano, a violência não pode ser percebida fora de um determinado
quadro histórico – cultural. Assim como as normas de conduta variam do ponto de
vista cultural e histórico a depender do grupo que está sendo analisado, atos
considerados violentos por determinadas culturas não são assim percebidos por
outras, como por exemplo, as ablações do clitóris das crianças ocorrem
diariamente em alguns países de religião islâmica, e são consideradas práticas
normais pela maioria da população mulçumana, além de não serem criminalizadas,
diferentemente da população ocidental, em que tem – se atos de violência e
graves violações aos direitos humanos. Durante muito tempo, os castigos físicos
infligidos a crianças e negros foram considerados normais. Assim, também
ocorria a violência contra a mulher, que era considerada, até recentemente,
como corriqueira e natural nas relações familiares em virtude do poder que o
homem detinha sobre a mulher em face do pátrio poder e do casamento.
Pode-se afirmar que a consequência imediata disto, é que a
violência é percebida de forma heterogênea e multifacetada, a partir da própria
estrutura simbólica vigente na sociedade. Pode-se verificar também que a
percepção contemporânea da violência foi ampliada não apenas do ponto de vista
de sua intensidade, mas igualmente na perspectiva de sua própria extensão
conceitual.
Convém então, dizer que as noções de violento e violência estão relacionadas à maldade humana, ou ao uso da força contra o fraco, o pobre ou o destituído. Nesse âmbito, o pobre, o fraco e o destituído surgem quase como que inocentes (como por exemplo, a criança que é espancada ou a mulher que é violentada), sendo uma questão de categorização moral do que de pertinente classificação econômica ou política. Segundo alguns autores pode-se afirmar que a violência, assim como a dor, a doença, a inveja, tem uma distribuição desigual na sociedade. Tem uma distribuição apenas associativa com certas categorias sociais. Elas sorriem para os pobres, muito mais do que para os ricos. A violência seria resultante de um desequilíbrio entre fortes e fracos. Isso envia um traço essencial do discurso de senso comum sobre a violência. A violência em suas mais variadas formas de manifestação afeta a saúde por que representa um risco maior para a realização do processo vital humano: ameaça a vida, produz enfermidade, danos psicológicos e pode provocar a morte.
Convém então, dizer que as noções de violento e violência estão relacionadas à maldade humana, ou ao uso da força contra o fraco, o pobre ou o destituído. Nesse âmbito, o pobre, o fraco e o destituído surgem quase como que inocentes (como por exemplo, a criança que é espancada ou a mulher que é violentada), sendo uma questão de categorização moral do que de pertinente classificação econômica ou política. Segundo alguns autores pode-se afirmar que a violência, assim como a dor, a doença, a inveja, tem uma distribuição desigual na sociedade. Tem uma distribuição apenas associativa com certas categorias sociais. Elas sorriem para os pobres, muito mais do que para os ricos. A violência seria resultante de um desequilíbrio entre fortes e fracos. Isso envia um traço essencial do discurso de senso comum sobre a violência. A violência em suas mais variadas formas de manifestação afeta a saúde por que representa um risco maior para a realização do processo vital humano: ameaça a vida, produz enfermidade, danos psicológicos e pode provocar a morte.
A cada ano, mais de um milhão de mulheres são vítimas de
violência doméstica no País, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE). Esse tipo de violência, apesar de sistêmica, tem
sido combatida com a defesa do direito das mulheres.
A Lei do Feminicídio, por exemplo, sancionada pela
presidenta Dilma Rousseff em 2015, colocou a morte de mulheres no rol de crimes
hediondos e diminuiu a tolerância nesses casos. Mas, talvez, a mais conhecida
das ações seja a chamada Lei Maria da Penha.
O projeto foi construído pela Secretaria de Políticas para
as Mulheres da Presidência da República (SPM), em conjunto com grupos da
sociedade civil. Em 2015, a Maria da Penha completou nove anos de existência,
mas há alguns fatos que poucas pessoas conhecem sobre a lei. Confira:
Maria da Penha é uma pessoa real e quase foi assassinada
A história da farmacêutica bioquímica Maria da Penha Maia
Fernandes deu nome para a Lei nº 11.340/2006 porque ela foi vítima de
violência doméstica durante 23 anos.
Em 1983, o marido tentou assassiná-la por duas vezes. Na
primeira vez, com um tiro de arma de fogo, deixando Maria da Penha paraplégica.
Na segunda, ele tentou matá-la por eletrocussão e afogamento.
Após essa tentativa de homicídio, a farmacêutica tomou
coragem e o denunciou. O marido de Maria da Penha foi punido somente após 19
anos.
Lei diminuiu em 10% os assassinatos contra mulheres
Segundo dados de 2015 do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), a lei Maria da Penha contribuiu para uma diminuição de cerca
de 10% na taxa de homicídios contra mulheres praticados dentro das residências
das vítimas.
Reconhecida pela ONU.
A lei Maria da Penha é reconhecida pela ONU como uma das
três melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência contra as
mulheres.
98% da população conhece a legislação
Apenas 2% das pessoas no País nunca ouviram falar da lei
Maria da Penha, segundo a pesquisa Violência e Assassinatos de Mulheres (Data
Popular/Instituto Patrícia Galvão, 2013). Para 86% dos entrevistados, as
mulheres passaram a denunciar mais os casos de violência.
Também pode valer para casais de mulheres e transexuais
A aplicação da lei Maria da Penha garante o mesmo
atendimento para mulheres que estejam em relacionamento com outras mulheres.
Além disso, recentemente, o Tribunal de Justiça de São Paulo garantiu a
aplicação da lei para transexuais que se identificam como mulheres em sua
identidade de gênero.
Lei vai além dá violência física
Muitas pessoas conhecem a lei Maria da Penha pelos casos de
agressão física. Mas a lei vai além e identifica também como casos de violência
doméstica:
- Sofrimento psicológico, como o isolamento da mulher, o
constrangimento, a vigilância constante e o insulto;
- Violência sexual, como manter uma relação sexual não
desejada por meio da força, forçar o casamento ou impedir que a mulher use de
métodos contraceptivos;
- Violência patrimonial, entendido como a destruição ou
subtração dos seus bens, recursos econômicos ou documentos pessoais.
Prazo de 48h para proteção
Depois que a mulher apresenta queixa na delegacia de polícia
ou à Justiça, o magistrado tem o prazo de até 48 horas para analisar a
concessão de proteção. A urgência da lei corresponde à urgência dos problemas
de violência contra a mulher.
O agressor não precisa ser o marido
Poucas pessoas sabem, mas a lei Maria da Penha também existe
para casos que independem do parentesco. O agressor pode ser o
padrasto/madrasta, sogro/sogra, cunhado/cunhada ou agregados, desde que a
vítima seja mulher.
Lei terá Patrulha Rural.
A secretária de Políticas para as Mulheres, Eleonora
Menicucci, assinou uma portaria este ano que cria a Patrulha Maria da Penha
Rural, composta por policiais mulheres, para dar mais segurança às mulheres do
campo.
As patrulhas serão diárias e passarão nos lugares onde há
indício de violência. Também servirão para controlar se a medida protetiva
determinada por um juiz está sendo eficiente.
Fonte: Portal Brasil
http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/
https://www.geledes.org.br/violencia-domestica-e-familiar-contra-mulher-lei-maria-da-penha
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