Crise de 1929 atingiu economia e mudou a ordem política no
Brasil
GIULIANA VALLONE
da Folha Online
A Crise de 1929 atingiu em cheio a economia do Brasil, muito
dependente das exportações de um único produto, o café. Mas, mais do que gerar
dificuldades econômicas, o crash que completa 80 anos em 2009 provocou uma
mudança no foco de poder no país, acabando com um pacto político interno que já
durava mais de trinta anos.
Entre os anos de 1894 e 1930, o presidente da República foi eleito pelos paulistas barões do café num mandato, e no outro pelos pecuaristas mineiros. Era a chamada política do café com leite, viabilizada pela hegemonia da oligarquia cafeeira paulista na época e que garantiu a formação de uma economia agrícola praticamente monoexportadora no país.
Entre os anos de 1894 e 1930, o presidente da República foi eleito pelos paulistas barões do café num mandato, e no outro pelos pecuaristas mineiros. Era a chamada política do café com leite, viabilizada pela hegemonia da oligarquia cafeeira paulista na época e que garantiu a formação de uma economia agrícola praticamente monoexportadora no país.
Em 1929, a quebra nos mercados acionários do mundo provocou
uma forte queda nos preços internacionais das commodities. "O Brasil era
fortemente dependente das exportações de café, e tinha uma enorme dívida
externa, que precisava ser financiada com essas vendas", afirma o
professor de História Econômica da FEA-USP, Renato Colistete.
Além da queda nos preços, a crise provocou uma diminuição na
renda e no consumo no mundo todo, prejudicando ainda mais as vendas de café. As
exportações do produto, que chegaram a US$ 445 milhões em 1929, caíram para US$
180 milhões em 1930. A cotação da saca no mercado internacional, caiu quase 90%
em um ano.
Fogueira
Na tentativa de conter a queda, o governo federal comprou
grande parte dos estoques dos produtores, e queimou 80 milhões de sacas do
produto. "A ideia era queimar para diminuir a oferta e aumentar o preço
internacional, porque o Brasil era o maior país exportador", segundo
Marcos Fernandes, coordenador do Centro de Estudos dos Processos de Decisão da
FGV-SP.
"A crise arruinou a oligarquia cafeeira, que já sofria
pressões e contestações dos diferentes grupos urbanos e das oligarquias
dissidentes de outros Estados, que almejavam o controle político do
Brasil", explica Wagner Pinheiro Pereira, doutor em História pela USP e
autor do livro "24 de Outubro de 1929: A Quebra da Bolsa de Nova York e a
Grande Depressão".
Poder
O que aconteceu, então, foi que o foco do poder no país foi
deslocado para o gaúcho Getúlio Vargas, que se tornou presidente da República
após a Revolução de 1930. "Do ponto de vista político, a crise foi
importante porque desviou o foco do poder para Getúlio Vargas e para um projeto
de industrialização", diz Fernandes.
O novo presidente, porém, sabia que, mesmo com o fim da
oligarquia paulista, o café não podia ser deixado de lado. Assumiu, então, uma
nova política de defesa da cafeicultura, na tentativa de equilibrar os preços e
evitar a superprodução.
"Não podemos esquecer que Getúlio era o pai dos pobres
e a mãe dos ricos", diz Fernandes. "Ele tratou de não romper tão
radicalmente com a oligarquia agrícola, e o café continuou sendo importante no
Brasil. Isso começa a mudar mesmo a partir de Juscelino Kubitschek e,
principalmente, a partir do Golpe de 1964."
A Grande Depressão, porém, dificultou os esforços do governo
para ajudar o café e "somente no final da década de 1930 o café começou a
recuperar os bons preços nos mercados internacionais", segundo
Pereira.
Fonte: Revista Cafeicultura
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