MITOLOGIA
GREGA
Os mitos nos
ajudam a entender as relações humanas e guarda em si a chave para o
entendimento do mundo e da nossa mente analítica. A mitologia grega, repleta de
lendas históricas e contos sobre deuses, deusas, batalhas heróicas e jornadas
no mundo subterrâneo, revela-nos a mente humana e seus meandros multifacetados.
Atemporais e eternos, os mitos estão presentes na vida de cada Ser humano, não
importa em que tempo ou local. Somos todos, deuses e heróis de nossa própria
história.
MEDÉIA
Medeia era
filha do Eetes, rei de Cólquida, uma região da Grécia Antiga. Sobrinha da
famosa feiticeira Circe, com quem passara parte de sua adolescência e aprendera
a fazer sortilégios e encantos mágicos. Quando se tornou jovem, era cortejada
por muitos pretendentes devido à sua inteligência, astúcia na arte da retórica
e pela beleza admirável.
Então, vindo
do reino de Iolcos, chega Jasão reivindicando seu prêmio, um velocino de ouro,
por ter realizado um feito grandioso em sua terra. Não querendo contrariar os
deuses, Eetes promete-lhe entregar o velocino desde que cumprisse algumas
tarefas: teria de lavrar um campo com dois touros indomados e depois semear no
campo lavrado os dentes de um dragão. Esta tarefa era difícil, mas Hera,
protetora de Jasão, convence Afrodite a fazer com que Medeia se apaixone pelo
herói. Como Eetes esperava que o herói morresse no campo a ser lavrado, Medeia,
adivinhando as intenções do pai, passa a ajudar seu amado, combinando com ele
ser sua esposa.
Primeiro lhe
oferece um unguento para conseguir domar os touros e arar o campo. Depois o
adverte que dos dentes semeados nasceriam soldados imbatíveis e que deveria
rolar uma grande pedra entre eles, para que ficassem confusos e matassem uns
aos outros numa discussão sobre quem atirara a pedra. Assim, Jasão, executando
facilmente as tarefas, voltou a reclamar o velo a si. Eetes fica furioso e
tenta incendiar o barco de Jasão, mas Medeia prepara uma poção poderosa que fez
o dragão que guardava o velo adormecer. Então, o herói pega seu prêmio e foge
com a amada em direção à sua terra.
Na fuga,
Medeia leva consigo seu irmão Apsirto e sabendo que seu pai não tardaria a vir
em seu encalço, manda matá-lo e esquartejá-lo, jogando os pedaços do seu corpo
no mar. Isso atrasaria o intento de seu pai, pois ele recolheria os restos de
seu filho para lhe dar um enterro decente. Sabendo do crime, Zeus fica furioso,
desvia a nau da rota e a orienta para a ilha onde habitava Circe, pois deveriam
ser purificados em um ritual. Circe os purifica, mas se recusa a manter Jasão
em sua ilha.
Ambos se
dirigem à Iolco e lá têm de enfrentar Pélias, o rei tirano que havia enviado
Jasão à Cólquida reclamar seu prêmio e esperava que ele falhasse. De novo,
Medeia, não titubeando em ajudar seu amado, engendra um plano absurdo: torna-se
amiga das filhas do rei e diz-lhes que é capaz de rejuvenescer quem ela
quisesse. Então, mata e esquarteja um velho carneiro e coloca suas parte num
grande caldeirão, onde fervia uma poção. Em seguida, retira-o do caldeirão vivo
e rejuvenescido. As filhas do rei, vendo essa proeza, correm a esquartejar o
velho pai e a lançar os seus pedaços dentro do caldeirão. Claro que ele não
saiu de lá com vida e o incidente fez com que o casal tivesse de fugir às
pressas para Corinto.
A paz de
Medeia não durou muito lá, pois o rei Creonte, com base em intrigas, convence
Jasão a abandonar a esposa e casar-se com sua filha Creúsa, além de obter
muitos privilégios na corte. Inconformada com a traição de Jasão, a quem dera
dois filhos e o ajudara a se livrar várias vezes da morte, trama ardilosamente
sua vingança: faz chegar às mãos de Creúsa um
lindo vestido de noiva e algumas jóias. Assim que a princesa veste o presente,
seu corpo se incendeia. O rei, aterrorizado e vendo sua filha consumir-se em
chamas, tenta salvá-la e se incendeia também, morrendo carbonizado.
Medeia teve
de abandonar a cidade e, na fuga, não teve tempo de levar seus filhos, que
acabaram sendo apedrejados até a morte pela família de Creonte, ante os olhos
insensíveis do pai. Mesmo assim, foi acusada de infanticídio, por um ato de
fria e premeditada vingança em relação ao marido infiel.
Retornando a
Cólquida, Medeia conhece Medo, com quem se une e passa a viver mais tranquila.
Mas ficam sabendo que seu pai, o rei Eetes havia sido deposto por seu tio
Perses. Medo mata o rei usurpador e estende o território do reino, que passou a
se chamar Média. E foi lá que Medeia viveu o resto de seus dias, tranquila, mas
sem nunca esquecer o volúvel Jasão.
Sendo uma
das mais belas tragédias gregas, Medeia rendeu muita discussão no campo da
psicologia. Influenciou a escultura e a pintura, tanto do Renascimento quanto
de movimentos posteriores. A versão de Eurípedes, escritor e teatrólogo grego,
possibilitou inúmeras versões e adaptações no teatro, no cinema e na
literatura, principalmente a parte de sua história onde é abandonada por Jasão
e tem de deixar os filhos à própria sorte. A tragédia retrata drama do amor
incondicional de Medeia pelo herói sem caráter Jasão.
O mito de
Medéia apresenta o retrato psicológico de uma mulher carregada de amor e ódio a
um só tempo. Ela é apresentada como um tipo de personagem na tragédia grega
como esposa repudiada, abandonada e estrangeira perseguida. Ela se rebela
contra o mundo que a rodeia, rejeitando o conformismo tradicional e tomada de
fúria terrível, ela assume a vingança como meta para automodificar-se e usa seu
poder de persuasão e suas palavras como armas.
A juventude impetuosa de Jasão o fazia aceitar todas as missões consideradas
difíceis, ou seja, ele se sentia atraido pelos desafios e obstáculos, dando
mais valor às impossibilidades de suas aventuras. Medéia, apresentada como
feiticeira, muitas vezes ligada à deusa Hécate - deusa da bruxaria, na verdade
simboliza a mulher jovem que, apesar da juventude, já dominou seus impulsos e
aprendeu a dominar a arte de viver e resolver problemas, mesmo aqueles
dificeis.
Vista como uma das figuras femininas mais impressionantes da dramaturgia
universal, Medéia narra o drama da mulher que deixa tudo: sua pátria, sua
família e seus sonhos para seguir ao lado de um grande amor. Jasão era o seu
objeto amado e de sua extrema dedicação. Ela era capaz de qualquer atitude para
atender os interesses e caprichos do seu amado.
Com sua maturidade, ao facilitar os caminhos e resolver todos os problemas de
Jasão, Medéia foi abandonada, pois Jasão não encontrava mais desafios e
aventuras. Medéia tinha todas as respostas, mas Jasão já não encontrava
desafios a vencer. Jasão vivia ansioso pelas aventuras e Medéia lhe oferecia a
estabilidade de um trono onde ele já não encontrava estímulos variados. De
fato, Medeia tivera sido apenas parte de suas aventuras. Inconformada, Medeia
quis vingar-se.
Em alguns casos, mães que não se recuperam dos efeitos da gravidez podem sofrer
de algum transtorno mental que a leva a maltratar seu filho recem-nascido. Em
outros casos, são os filhos ilegítimos indesejados que se tornam vítimas de
crueldade. Há ainda outro fato cruel, é aquele em que o ódio é deslocado para
as crianças como forma de retaliação. Essas crueldades são denominadas como
Complexo de Medeia.
Não são raros os casos daqueles que para vingar-se, maltratam seus próprios
filhos ou os enteados como uma forma de provocar uma imensa dor em quem o
rejeitou. O Complexo de Medéia é encontrado tanto nos filmes como na vida real,
no qual aquele que foi rejeitado direciona sua atenção furiosa para a nova
parceira ou novo parceiro do seu ex-amor como também às crianças envolvidas na
trama. A história do relacionamento dos pais tende a revelar um ambiente
hostil, cheio de conflitos, com atos violentos de um ou ambos, sendo uma das
principais motivações para os conflitos e o assassinato, o ciúme e suspeitas de
infidelidade.
A retaliação por parte dos homens parece ser uma extensão natural de seu poder
e controle sobre a família e o relacionamento sexual. Quando a mulher abandona
o homem para iniciar ou não outro relacionamento, ele percebe isso como um
desafio à sua autoridade e masculinidade. Os homens são muito mais propensos à
retaliação do que as mulheres. Além disso, os homens apresentam maior
probabilidade de causar injúrias mais sérias. As mulheres apresentam
comportamento retaliador devido ao ressentimento, pela falta de poder no
relacionamento.
Quando acontecem os divórcios, alguns pais ou mães iniciam um processo de
destruição do ex-parceiro ou parceira. Sofrendo de uma espécie de Complexo de
Medéia, para fazer o outro sofrer, passam a matar emocionalmente e
psicologicamente os filhos. Assim, dificultam o relacionamento entre o pai ou a
mãe com os filhos, interferem, mentem, escondem, manipulam até à exaustão as
mentes e emoções dos filhos e ainda se fazem de vítimas. O fato é que tais
atitudes interferem negativamente no desenvolvimento da criança mas isso não
parece fazer parte das preocupações dos modernos pais e mães Medéias.
Uma mãe que põe as suas crianças contra o pai delas ou o pai que as coloca
contra a mãe, provavelmente terá, pelo menos, comportamentos paranóicos de uma
estrutura de personalidade psicótica ou borderline. Por não conseguir lidar com
a perda, permanece com uma ligação ao ex-marido ou ex-esposa num íntimo
sentimento de ódio e mantém as crianças amarradas por um profundo sentimento de
lealdade consigo.
Parceiros e parceiras rejeitados podem usar os filhos para despertar compaixão
ou usá-los como mini-espiões para lhes relatar a nova vida do ex-marido ou da
ex-esposa. Para alimentar o ódio que sente, usam os filhos como fantoches e incitam
os filhos a despertar ciúmes. Os filhos se tornam extensão de seus tentáculos e
podem até mesmo usá-los para atrapalhar o novo relacionamento, usando o filho
como um gancho para manter uma ligação com a família do ex-parceiro ou
parceira, impondo sua presença em qualquer esfera onde possa penetrar. Expor os
filhos a tamanha carga psicológica e desgaste pode causar grande desorientação
nas crianças.
Outro aspecto do mito que realmente é bastante típico dos casos reais é a
história de abuso físico e emocional no relacionamento: a violência doméstica
que não se restringe apenas às agressões físicas, mas principalmente às
atitudes de humilhação que um cônjuge submete o outro. Em muitos casos, as
mulheres submetidas à violência doméstica preferem o silêncio do que enfrentar
o homem por meio de ações judicias esperando que a situação algum dia se
amenize. Na maioria dos casos, é apenas uma perversa ilusão.
No mundo atual, muitas pessoas vivem relações irreais e seguem iludidas. A
longo prazo poderão descobrir que mais vale uma triste certeza do que uma
prazerosa ilusão, pois, diante de uma certeza, toma-se decisões de mudanças;
diante de uma prazerosa ilusão, segue-se perseguindo uma utopia...
Fonte: http://eventosmitologiagrega.blogspot.com
Organização da postagem: Profª Lourdes Duarte